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Expresso da Saudade

 

 


Era uma época que para muitos podem acreditar remota, mas que de tão prosa desperta saudades até de quem não viveu. Uma fração do tempo ditada pela Existência em que a experiência dos domingos sobressaia o que se entende por trabalho ou descanso; dia de repouso ou lutas. Decerto, tinha aquele charme brejeiro e ideal que concedia espaço para todas as escolhas.

Por essa época tinha a Rádio Difusora de Caruaru com seu suntuoso auditório de cadeiras ocupadas. No palco, o Programa “Expresso da Alegria” a aluminar as manhãs domingueiras. As irradiantes transmitiam quase sorrindo as ondas que alcançavam grandes distâncias do velho e fiel rádio AM, em seu charme e pompa da estática característica. Sabe, quase posso apalpar esse tempo de tão terno no arquivo de todas as memórias. Voltando ao recorte dos domingos, esses eram de toda forma marcados por uma atmosfera familiar, nas fazendas, sítios e grotões onde parentada desfrutava desse dia para uns, especial e outros não...que besteira! Cada um pode conceder o valor a qualquer dia conforme suas percepções de mundo. No geral, era o dia da família, da macarronada na mesa, dos quitutes, banho de açude, pesca, igreja, Os Trapalhões, Programa Silvio Santos.

Tudo com muita simplicidade, longe de qualquer tecnologia que facilitassem os processos naturais do humano ser. Para ligar a TV era preciso se levantar do sofá e ainda se fazer uns certos ajustes que reclamavam não tanta perícia, mas movimentos que tiravam o corpo do sedentarismo. Além disso, rodar a antena para conseguir melhor sinal ou “virar a chave” era fundamental para que o sinal chegasse ao tubo de imagem com poucos chuviscos ou fantasmas. Veio o controle remoto e selou o reinado da preguiça que tanto faz mal ao organismo. Lembro que um dos marcos do domingo era o programa Os Trapalhões. Antes do Fantástico declarar o encerramento desse dia, o quarteto arrancava risadas de todas as idades. Era de lei: quando a vinheta de abertura se executava as ruas se esvaziavam e nos ares eram captados os sinais das trapalhadas de outros dias. Mas, tinha Silvio Santos como Qual é a Música?; Show de Calouros; Tudo por Dinheiro; Domingo no Parque entre tantas atrações que sequer lembro. Feliz tempo em que não vínhamos tantas tragédias, em que o “Show da Vida” trazia as aberturas deslumbrantes de tantas cores quase carnavalescas.

Enfim, tudo se foi no último trem que por aqui passou. Alguns resquícios sobraram, mas distante do que se via antigamente. Não se vai mais aos sítios por medo da violência; não se pesca por carência de peixes; não se assiste “Os Trapalhões” por dois membros do quarteto não estar no meio de nós; não se escuta o “Expresso da Alegria”, pois a Difusora se tornou apenas um prédio defunto quase engolindo por um potente centro de compras e empresarial.

Fala mais alto a saudade...no Expresso da Saudade de todos os domingos.

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José Batista Neto - Jornalista e Editor do BCN

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