Natal de Ontem e Hoje
Nesse tempo, o agora, o Natal é um convite para
desacelerar, sair da árdua rotina da Existência. No auge das redes sociais, o
telefone não para de sinalizar “mensagens e votos”. Pois bem: o passado - e o Natal daquela época traz dados que
constituem episódios interessantes e vale a pena visitar.
Os mais antigos evocam as festas de outros
tempos. Conversando com essas figuras e meditando nas suas palavras, fui
anotando cenários interessantes e marcados por profunda devoção à simplicidade.
O leitor, atento que ganhar um pouco de tempo nessa leitura deverá se permitir
a voltar no tempo e entrar em sintonia com as décadas de 50, 60 e 70 do século
passado... uma cidade simples, casas dispostas modestamente e com ruas sem
pavimentação. Um poste aqui ou acolá formando a iluminação pública. A matriz,
sempre no centro cercada por canteiros onde as margaridas viçosas eram
arrancadas furtivamente por enamorados. Na véspera do Natal, famílias que
moravam na roça se uniam e seguiam por picadas e estradas de terra, sorvendo a
abundância de odores de uma natureza quase virgem, sem preocupações com
assaltos ou qualquer tipo de violência. Os mais brandos temores se resumiam as “almas
penadas”, tochas ou Comadre Fulozinha. O roçar leve da campina enquanto a
fresca agreste acariciava os rotos.
Na cidade, espaços e ruazinhas localizadas ao redor da
igreja eram ocupados pelos parques de diversões: canoas, carrossel empurrado
por alguém , uma tal de “onda”, que é imitada por um brinquedo dos dias atuais
que não vem em mente o nome...O palanque posto para o pastoril. As casas
cheias. O jantar, servido com muita simplicidade e alegria. Ao redor das mesas,
uma oração de agradecimento e preces. O Menino Jesus ocupava o centro, hoje
destronado pela duvidosa figura de um senhor de barbas brancas, vestido de
vermelho carregando um saco nas costas...bom, não se intimide, cara criança
que se encanta com o Papai Noel, não tenho nada contra. Só pertenço a um número
que anseia que o verdadeiro motivo das festividades natalinas volte ao seu
trono. Na praça, o pastoril começara e logo a pequena multidão se dividia, cada
qual abraçando um cordão: o azul ou o encarnado. No final, a comemoração do
grupo vencedor. Ainda tinha um tal “passeio”, num frenético percurso feito num
ônibus. Conta minha avó, em suas doces lembranças que, em São Joaquim do Monte,
cidade a que me refiro nesta conversa, o veículo era lotado de crianças e
casais de namorados partindo de “Barnabé” e seguindo até o local onde nos dias
atuais se localiza a Cohab, retornando ao ponto de partida. Ainda reza a
lembrança do movimento da “onda” e do carrossel com o candeeiro de querosene
iluminando e tendo por tração um funcionário.
Exatamente a meia-noite se celebrava a Missa do Galo.
Desde cedo, senhoras de saias longas e devotas aguardavam nas escadarias da
matriz para participar do precioso momento. O Natal anunciado, celebrado e
partilhado. Os que moravam nos sítios não temiam voltar já na madrugada, entre
risos e conversas, nada temendo...
O Natal mudou. Muita coisa se perdeu, de fato. Nessas
viagens que faço e levo você que até agora me acompanhou exorto para uma
felicidade que precisa ser resgatada, para o nosso próprio bem. Os sítios foram
deixados de lado. Não se vê mais grupo de pessoas indo e vindo. Até as almas
penadas se esconderam com medo dos assaltantes. A missa foi antecipada. Já não
se cantam os hinos dos pastoris. As margaridas, na minha cidade, foram substituídas
por uma praça formada apenas por pau e pedra.
Ah...meu caro! Tempo bom que muitos queriam ter vivido ou
voltar pra lá...com carinho lembranças e exemplos que podem ser atualizados.
Basta querer.
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José Batista Neto
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José Batista Neto
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