Uma tarde de sol intenso. Aquele sábado de outros tempos. Lembro que as pessoas desaceleravam...verdade. Esse dia se tornava uma grande tomada de fôlego, um afago esperado, a gota que cai numa terra ressequida. A casa branca da fazenda recebia na fachada o dourado esplendor do sol. O branco intenso, caiado com esmero, era qual espelho a ofuscar os desavisados.
Uma residência de fazenda e em torno a paz brejeira. Ao longe um rádio tocava qualquer coisa. O gado mugia, a caminhar serenamente rumo a um regaço. E aquele bom senhor, saia de uma casinha simples e descia à cacimba. Com passos lentos, pisava os grãos de terra batida, a rota de vários moradores que continuadamente buscavam o precioso líquido. Era sábado. O cheiro dos preparativos impregnavam a atmosfera. Bolo sendo assado no forno, compotas de doces diversos a esfriar nas janelas. Esperava-se sempre visita, bem vinda no vindouro domingo.
O tempo foi passando. O senhor que carregava água faleceu. Já não se deposita doces nas janelas pois essas estão gradeadas por força da violência. A maioria dos moradores foi morar da cidade com medo. O rádio foi trocado por um smartphone. A poluição engoliu o regaço, hoje podre e sem qualquer sombra de vida. Não há mais aromas de sábados, apenas o cheiro vil de fumaça e poluição. Os domingos são longes lembranças dos tempos passados.
De tão modernos perdemos a essência. A violência nos privou das calçadas, sítios e fazendas. Somos leitores do medo, escravizados pelo avanço desumano. Quem dera experimentar o antigamente, atualizando-o para o hoje. Quem dera que hoje fosse o ontem, em que havia mais vida, mais amores, mais poesia...
José Batista Neto
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