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SALA DE LEITURA | Seu eu pudesse voltar no tempo...

 José Batista Neto

O domingo tem um ar de saudades. Não dessas que passam com um tempo, mas que se apegam ao tempo de modo que não tem forma de esquecer. Tenho reafirmado para familiares, amigos e conhecidos que os domingos de outrora eram de fato, domingos. Não que o dia se deslocou, mas a essência humana que imperava se transformou num contexto de rotina qualquer.  

No passado esse dia era conhecido por “dia da família”. Era possível ver casas cheias da parentada logo de véspera, em especial nos grotões, sítios e fazendas. Na época, a população rural era superior em cidades do interior. Se via crianças, adolescentes e até adultos em algazarra nos açudes, barreiro e riachos. No rádio AM, a transmissão da missa acompanhada pelos devotos e devotas. Alguns iam a pé cedinho por picadas e estradas de terra para a cidade para fazer sua devoção e de tabela comprar algumas coisinhas nas vendas. Por falar neste estabelecimento, eram comuns nas comunidades e nas grandes fazendas. De pronto se viam alguns tomando uma pinga, gengibrada, temperada ou um vinho quentinho; vivendo e / ou jogando conversa fora. Mas, era da família também nas cidades. O movimento dos templos; o sino tocando chamada pra Missa; a rotina dura pausada para o descanso, qual suspiro necessário para seguir adiante.  

As casas assobradadas rodeadas por janelas, tinham-nas escancaradas para o sol benfazejo do domingo abençoar recintos. As mais simples, de porta e janela, também seguiam esse roteiro. O cheiro imperioso de almoço especial se espalhava. Aliás, nas famílias mais humildes, o cardápio recebia reforço aos domingos da macarronada, galinha ao molho  branco ou cabidela com o acompanhamento da cajuína. Tudo muito resumido, porém, com esmero e vida. O tempo era decerto aproveitado ao máximo: sem a pressa dos novos dias, sem tropeços que minam qualquer alegria. Outro recorte interessante é que no domingo as emissoras de rádio mantinham o ritual do programa dedicado a Roberto Carlos, com seleções inspiradoras que convidavam a aumentar o volume dos receptores.  

As poucas casas com TV, algumas ainda preto e branco recebiam o precário sinal que se convertiam no Programa Silvio Santos, com a abertura clássica pelo jingle que nem precisa ser citado para tocar nas mentes de quem passou por essa passagem de tempo... “Silvio Santos vem aí”... A boca da noite e convocando para o encerramento deste dia querido, Os Trapalhões tiravam risos com tiradas simples. Nas pequenas cidades, tinha a praça com um televisor embutido para os menos afortunados não perderem as troças do quarteto que tanto alegrou os domingos do passado. 

É quando penso: seu eu pudesse voltar ao passado e não voltar. Me jogar no açude das coisas simples, experimentar a paz e tranquilidade, sentir o aroma do mato molhado do orvalho, a orquestra dos pássaros e o chiado do rádio ABC. Chorar, mas sorrir. Te de volta o carinho dos que já partiram e por fim, dormir tranquilo sem qualquer pressa para adentrar em mais uma semana...

 


 

Publicado por Antônio Oliveira - Redação BCN - o Blog da Terra da Romaria!

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