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OPINIÃO: 104º ano e o caminho da Extinção da Festa de Reis

José Batista Neto




Digamos que o título aparentemente "exagerado" te trouxe aqui. Agradeço por isso. Mas, convido seguir-me até a última linha para entender o sentido e não tenho dúvida que até o mais resistente irá concordar com esse editorial.  Não é à toa que escolho esse período em que a minha cidade atual tenta mergulhar nas águas rasas de uma festividade que já foi gigante para buscar refrigério em tempos de tanta aridez. 

Minha avó sempre falava com carinho da Festa de Reis. Também vivi bons momentos na época em que o sentido da festa não era voltado para "atração" e sim para a tradição. A religiosidade era o ponto mais firme e a procissão a culminância e o centro de todas as coisas. Para começo de conversa a festa era obrigatoriamente no dia 06 - Dia de Reis - não importando o dia da semana. Com o caminhar dos anos a data foi relativizada ficando ao bel sabor de quem organiza, programando para o final de semana. Tinha o novenário: a preparação para o grande dia, com nove noites de muita alegria na Matriz. Essa, por sinal, recebia uma iluminação na fachada, que imitava leques, estrelas, rodas e piscavam, celebrando. Era uma atração bem a parte e fascinava crianças e velhos. Conta minha inesquecível vó que as pessoas vinham a pé no dia da festa dos sítios e voltavam a noite sem iluminados pela lua (quando tinha). Ninguém precisava se preocupar com segurança. Não havia violência.

No raiar da Festa, a salva de 21 tiros despertava a cidade às cinco horas da manhã. A banda musical então começava a tocar dobrados na Alvorada Festiva. Pessoas apareciam nas portas e respiravam a cidade em festa, entrando no clima. O rasgar do pipoco do rojão "vira-serra" era escutado de longe, reverberando nas montanhas que circundam a cidade.  O antigo sino, com a sonoridade jamais esquecida repicava e a girândola de rojões avisava que era Festa de Reis. Na boca da tarde, era possível ver as pessoas chegando da zona rural para a Missa e procissão. As melhores roupas, no geral ternos para homens e vestidos brancos para as mulheres. O Padroeiro saía ricamente ornado sob aplausos e respeito devido. No fim, era a hora de compra alfenim e bolo ou balançar na canoa e na roda gigante girar. Os apaixonados trocavam recados na difusora do parque “de um alguém para alguém”. Por fim, vinha o baile no Clube Municipal 11 de Setembro, sempre familiar e participativo.

Com tristeza nos dias atuais se vê o dia raiar e mal se escuta o roco sino. Não tem mais rojão ou fogos. Não existe mais alvorada ou bandas. As pessoas não se achegam dos sítios por medo de assaltos – até as temidas “almas penadas” fugiram de medo dos dias de hoje. A procissão insossa e om um grupo resumido de pessoas passa pelas ruas com casas lotadas, pessoas olhando por conveniência, e mais outras escutando em alto som as quebradeiras da moda.
A festa se resume agora a uma escala de shows em Praça Pública e só. Antigamente a preocupação era com a procissão. Nos dias atuais, os investimentos são em cachês altíssimos de bandas que tocam 1 hora por mais de 50 mil reais. Se foram os fogos. A banda musical sequer existe mais. Apagaram as luzes da Igreja e ruas e o alfenim sobrevive aos trancos em barrancos. É o fim de uma tradição entre tantas bonitas que deveriam ser restauradas da asfixia pornográfica das músicas de hoje em dia.

Queira Deus que ainda alguém um dia se lembre de salvar a festa. Não é preciso nada mais que interesse que presta a prestar um serviço para o bem de nossas tradições, tão bem vividas e praticamente mortas.





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